METODOLOGIA DO INSTRUTOR

O que ensinar na Bujinkan?

Ser instrutor, não significa que se deve ensinar o que lhe ocorrer em um momento de inspiração.
Acho que tem que ensinar o que foi aprendido por própria experiência, mas obviamente o que diz respeito à Bujinkan.

Ser sincero e transmitir os ensinamentos para manter viva as 9 tradições do legado de Sōke, sinto que é de grande valor compartilhar um caminho.

O Sōke tem seguido sempre um padrão de temas a cada ano, o qual tem marcado como etapas conectadas umas às outras para elevar o entendimento e conhecimento dos praticantes. Penso que tratar de passar para a etapa seguinte sem ter terminado a etapa anterior, pode ser uma queda direta para o princípio da ignorância.

Então, se começou a ensinar recentemente, deve se lembrar que sempre será um aluno, um estudante, e deve seguir praticando por toda sua vida. O título de Shidōshi-Ho, de Shidōshi ou Shihan, são simplesmente papéis que te autorizam compartilhar o Budō, mas não que se deixe de treinar com constância. Se aparenta ser um instrutor e não estudar seus próprios erros é possível que faça prática contrária ao Budō e transmita de forma incorreta.

De onde vem seus maus hábitos?

Talvez alguns instrutores tenham aprendido outras Artes Marciais antes de chegar na Bujinkan e sem se dar conta, limitados por suas bases e seus princípios marciais, transmitem mitos de outras Artes Marciais. Às vezes observo pessoas que se movem muito suavemente e seu Taijutsu é aparentemente agradável, mas quando lhe pedem para que façam rápido, começam a fazer outras coisas, entre elas, muitas formas de suas antigas Artes Marciais.

Inclusive, estas Artes Marciais condicionadas na mente e corpo do praticante não venham diretamente da aprendizagem deste estilo, também acontece de algumas delas terem sido recebidas por seus instrutores da Bujinkan que tenham maus hábitos. Então isto se torna uma corrente enferrujada que tem afetado muitos vínculos.

Os hábitos podem ser mudados, mas tem que querer mudá-los. Uma das melhores formas de mudar 5 maus hábitos é incorporar 10 bons hábitos.
Movimento, passo, impulso e inteligência convidam as oportunidades de mudar, mas você só ficar com segurança, é provável que nunca possa melhorar e superar.

Quando tem que esperar, tem que saber fazer com paciência e sem desespero, mas tão pouco não faça de sua vida uma constante espera. Não espere eternamente que o professor chegue e te corrija o que está mal. Comece se movendo, se traduzindo, observando o seu mestre em todas as áreas, deixando que seus exemplos sejam nutrientes para os teus hábitos e tratar de incorporá-los. Estive viajando para o Japão durante muitos anos, às vezes uma ou duas vezes por ano, e tive o privilégio de poder estar com o Sōke não somente no Dōjō, mas também em sua casa, caminhando, fazendo compras, em dias de descanso, etc. Desta forma pude observar seus hábitos em diferentes ambientes e tratar de adaptar-los à minha vida para que sejam nutrientes de vida. O Sōke é um exemplo de vida em muitos aspectos e deveríamos tê-lo como modelo para o caminho de um guerreiro completo da era moderna.

Onde colocar a mente?

Considero que é muito difícil se concentrar no que se pode fazer diferente quando se está muito ocupado culpando os outros e fugindo da responsabilidade dos próprios atos. Ensinar é de grande valor, mas esse valor deve vir da realimentação na prática constante.

Prestar atenção no que é capaz de realizar e não na ilusão do que não se pode por culpa disto ou daquilo, justificando que não se pode treinar por falta de dinheiro, de tempo, disto ou aquilo, é simplesmente uma armadilha do ego.

Sinto que um instrutor deve encontrar os meios e não as desculpas. No passado, um Ninja conseguia concretizar suas missões com diferentes armas, algumas improvisadas para a ocasião e às vezes com métodos poucos ortodoxos. Mas enfim, alcançava os seus objetivos!

Então, a primeira coisa a colocar na mente é o que você quer alcançar, depois não deixar que más emoções preencham o espírito de alegria. Encontrar os meios para alcançar nossos objetivos, e supostamente, lhe dar movimento e ação.

De onde estudo?

Às vezes os instrutores querem reverter seus ensinamentos aos programas de estudo e tem mais instinto em ler, interpretar e compartilhar o que tem que treinar. Não está mal se as técnicas de um programa de estudo ou a maioria delas foram transmitidas pela pessoa correta, mas muitas vezes acontece que as pessoas querem ensinar determinada escola ou arma que nunca aprenderam da forma correta e isto começa a se converter em uma corrente de vínculos enferrujados.

A única forma de evitar que essa corrente se corte e poder limpar a ferrugem, é lubrificar o ser com treinamento. O fluxo do Bufū se faz no lugar e com pessoas corretas, então começa a pertencer a uma corrente de vínculos de luxo, que sem dúvida se faz cada dia mais forte.

Por onde começar uma aula?

O primeiro passo é preparar o corpo. O Jūnan Taisō é uma série de movimentos que dão ao corpo elasticidade, flexibilidade e lubrificam as articulações para poder fazer uma aula. O Jūnan Taisō também tem grandes benefícios sobre a saúde total do corpo.

O segundo passo é praticar o Taihen Jutsu, que são séries de rolamentos, quedas, saltos, esquivas e posições do corpo que devem ser praticados sempre como bases. Embora que se repitam em cada aula, a motivação própria para os estudantes, deve ser a de querer melhorar a fluidez no Taihen Jutsu e aprender a proteger o corpo nestes movimentos. No Tenryū Dōjō começamos com uma série de rolamentos a partir de um Kamae, realizando Zenpō Kaiten, Ushiro Kaiten, Gyaku Kaiten, Ushiro Nagare, Yoko Nagare, Hichō Kaiten, etc. Também fazemos esquivas com formas de golpear e bloqueios (Jōdan Uke, Gedan Uke, etc.).

O terceiro passo é praticar as bases do Taijutsu, que são o Sanshin No Katá e o Kihon Happō. Sem dúvida, depois de muitos anos percebo muitos erros em minhas bases que quero melhorar a cada dia e estou seguro que buscarei até minha última exalação como aperfeiçoar meu Taijutsu. Também espero isso dos meus alunos quando compartilho as bases, que façam delas uma prática para sempre.

O quarto passo é ensinar o Ten Chi Jin Ryaku No Maki e começar com alguma arma em particular. Sempre deve abordar com as formas (Katá) corretas, segundo os programas de estudo. Uma vez que o estudante pode fazer facilmente as formas corretas, deve lhe dar a visão de que existem variações desta mesma forma que apresenta esta técnica de Taijutsu ou de armas. Desta maneira, se dá ao praticante a capacidade de compreender que existem conceitos dentro das técnicas, como os seguintes:

  1. 間合い Maai: Conseguir tomar a distância correta frente ao adversário.
  2. 空間 Kukan: Ser consciente do próprio espaço, do adversário e da técnica.
  3. 構 Kamae: Sem perder a posição, poder manter o Kamae correto durante toda a técnica.
  4. Ura e  Omote: Cada técnica pode ter um aspecto interno e externo.
  5.  Migi e  Hidari: Poder fazer as técnicas pela direita e esquerda.
  6. 上段 Jōdan, 段 Chūdan e 段 Gedan: Desenvolver a habilidade de fazer as técnicas em um nível alto, médio e baixo do corpo.
  7.  Nagare: Aprender a realizar os movimentos fluídos e suaves, sem interrupções.
  8. 十方折衝 Jūppō Sesshō: Encontrar o momento propício de fazer as técnicas com a habilidade de se mover em todas as direções.

Implantar a felicidade, o entusiasmo e a empatia durante a prática, também considero de grande valor despertar aspectos positivos no estudante de Budō.

Incentivar a treinar com constância e participar de todas as aulas e seminários, é enriquecedor não somente para o Taijutsu do estudante, como também para os valores de amizade com outros membros da Bujinkan.

É verdade que todos possuímos diferentes níveis de energia e também é verdade que a vida não é somente treinar, mas muitas vezes a preguiça e apatia nos congelam e se tornam uma força terrivelmente obscura no caminho do Bugeisha. Desenvolver entusiasmo é um caminho próprio, mas de todas as maneiras devemos oferecer as possibilidades aos estudantes de que encontrem formas de ampliar seus horizontes com aulas renovadas e mais metas para alcançar em seu treinamento.

Por último, considero que a essência do Budō e do Ninpō se mantenham muito ocultas no interior, mas que se manifestem no exterior na habilidade da ação. As simples ações de coisas que para muitos são difíceis ou impossíveis de realizar, se tornem realidade com o Ninpō e aquelas coisas que parecem óbvias, passam a nível inferior. Isto é considerado no Japão como Yūgen.

O Yūgen nos mostra as coisas em outro plano, não diretamente, mas sutilmente. Assim como muitos ensinamentos do Ninpō passam despercebidos, mas tem grande repercussão, de forma igual ao Yūgen, mostra que a beleza real se dá através de sua sugestão, somente umas poucas palavras ou umas suaves pinceladas podem sugerir o que não foi dito ou mostrado, e portanto, despertar numerosos sentimentos que elevam o espírito. Cultivar isto como Bugeisha e instrutor da Bujinkan, considero que é importante, e fazê-lo despertar nos estudantes, é sem dúvida uma boa forma de manter viva as tradições que o Sōke nos ensina.

SHIKIN HARAMITSU DAIKŌMYŌ

Shihan Christian Petroccello

       

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